Andrew Korybko
Analista Geopolítico
O Fim do Embargo
Os EUA estão furiosos porque a ONU deixou o embargo de armas de 13 anos ao Irão expirar no domingo, sem estendê-lo como desejavam. O secretário de Estado Pompeo humilhou-se no cenário mundial por tentar espalhar o medo sobre o impacto que este desenvolvimento poderia ter na segurança regional, sendo quase totalmente rejeitado pela comunidade internacional. Em resposta, os Estados Unidos mais uma vez recorreram a acenar com o seu "bastão das sanções", ao ameaçar impor restrições económicas unilaterais a quem venda armas ao Irão após o término do embargo, mas isso provavelmente não deterá os principais parceiros estratégicos da República Islâmica chineses e russos, que estão ansiosos para expandir esses laços com o Irão. Isso não permitirá apenas que Teerão fortaleça as suas capacidades de defesa nacional, mas também poderá alavancar o seu novo comércio de armas com esses países e talvez até mesmo outros, a fim de aprofundar amplamente as suas relações com eles.
Possíveis negócios chineses e russos
Relatórios anteriores sugeriam fortemente que o Irão e a China estão em processo de concordar (ou já concordaram secretamente) um grande acordo de parceria estratégica que pode valer até 400 mil milhões de dólares. Presumivelmente, esse pacto também incluiria uma componente militar de natureza pouco clara, provavelmente mais relacionada com a cooperação técnico-militar, do que com relatos escandalosos de bases chinesas na República Islâmica. Quanto à dimensão russa das novas oportunidades com o Irão, relatórios anteriores diziam que Teerão estava considerando comprar sistemas de defesa S-400 e possivelmente até caças Su-35 ou outros jactos semelhantes. Independentemente do que decida comprar de qualquer parceiro, surge porém naturalmente a questão de como vai o país pagar tudo isso, considerando a crise económica actual e todas as dificuldades que isso cria para o país. É aqui que um "sistema de troca" de facto pode desempenhar um papel importante.
Troca militar?
O Irão não é estranho a tais acordos, depois de já tê-los feito com a Rússia no passado. Desta vez, no entanto, pode oferecer participações preferenciais na sua indústria de energia, redes de transporte e logística, e outras esferas atractivas, como a comercial, a fim de atrair investimentos mais significativos. Dessa forma, o Irão poderia realmente tentar jogar a China e a Rússia uma contra a outra para garantir os negócios mais vantajosos. Na verdade, pode já ter conseguido fazê-lo, dependendo de quaisquer detalhes que eventualmente surjam sobre a sua parceria estratégica com a China. Pode muito bem ser o caso de que a China vença a Rússia antes mesmo de a competição começar formalmente, embora os iranianos possam não ter dado tudo a Pequim para manter a possibilidade de negociar com Moscovo em acordos militares, considerando a reputação global da Grande Potência Eurasiana como um fornecedor principal de tais mercadorias.
Sensibilidades Estratégicas
O autor reconhece que o acima exposto contém uma ampla quantidade de especulação, mas também deve ser reconhecido pelo leitor que os acordos desta natureza são geralmente opacos por razões de segurança nacional, especialmente considerando o quão sensível é a questão do comércio de armas iraniano à luz das ameaças de "sanções secundárias" dos EUA. Pode muito bem ser o caso de alguns artigos de grande valor serem promovidos publicamente para efeitos de soft power (ambos relacionados para mostrar a disposição do Irão desafiar os EUA, bem como a intenção igual dos seus parceiros chineses e/ou russos de fazer o mesmo) mas é mais provável que esses acordos, ou pelo menos a maioria deles, permaneçam nas sombras pelo maior tempo possível. A ambiguidade estratégica resultante teria como objectivo manter os rivais do Irão em alerta, mas considerando as excelentes relações da China e da Rússia entre si, não se pode ignorar que eles possam tentar tranquilizar secretamente esses actores de que os seus negócios não ameaçarão os seus interesses.
"Concorrência Amigável"
Lembrando a "concorrência amigável" entre a China e a Rússia em partes da Eurásia, independentemente dos grandes negócios de armas que se acabe fechando com o Irão, este pode perder negócios relacionados para os seus rivais do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). Como tal, pode acabar sendo uma situação vantajosa para todas as partes envolvidas, quer o reconheçam conscientemente ou não. Se a Rússia é quem chega a esses acordos com o Irão, por exemplo, então a China poderia simplesmente dobrar as suas exportações militares para a Arábia Saudita, que poderia estar menos inclinada a comprar os produtos de Moscovo se Riade sentir-se desconfortável com as suas vendas para Teerão. O cenário oposto provavelmente ocorreria no caso da China fechar acordos com o Irão, por meio dos quais a Rússia tentaria lucrar, estimulando com isso mais venda de armas para o reino wahabita como resposta. De qualquer forma, todos "ganham" no sentido de que um "equilíbrio" é mantido, indirectamente, administrado pelo meio da dinâmica das relações sino-russas.
Pensamentos Finais
A expiração do embargo de armas iraniano abre algumas oportunidades estimulantes para a República Islâmica, já que Teerão pode agora alavancar potenciais acordos militares como parte do seu grande objectivo estratégico de melhorar de forma abrangente as relações com os seus parceiros chineses e russos. Melhor ainda, ele pode tentar jogá-los um contra o outro em uma "competição amigável" para obter o maior benefício, embora também deva ter em conta que qualquer um dos dois "perderá" nas negociações em questão provavelmente redirigir o seu foco de exportação militar para os seus rivais do GCC, a fim de compensar os negócios perdidos. Será interessante para os observadores monitorar a dinâmica técnico-militar entre o Irão, a China, a Rússia e o GCC nos próximos anos. Também seria útil para todos se rastreassem as suas previsões e possivelmente modificassem o modelo que cada qual propôs se os desenvolvimentos futuros o exigirem, a fim de chegar a previsões mais precisas.◼

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