Luigi Tedeschi

Editor do Periodico Italicum, Roma


Uma «nova Europa» com tracção polaca, ideologicamente russofóbica e concebida como uma plataforma armada funcional às estratégias expansionistas norte-americanas está a substituir a «velha Europa» franco-alemã. A ocidentalização do mundo é identificada com a erradicação das identidades culturais dos povos, a sociedade de mercado e o individualismo absoluto. Com a nova ordem multilateral, está a emergir uma guerra civil mundial que se articula na oposição entre o ocidentalismo globalista e a soberania dos Estados


Fim da história ou fim do Ocidente?

O fim da história é uma teoria ideológico-historiográfica desmentida pelo curso inexorável dos processos evolutivos contínuos da própria história, mas que, no entanto, revela hoje a sua credibilidade: o fim da história identifica-se com o fim do Ocidente. No início dos anos 90, com o colapso da URSS e a ascensão do domínio global americano, a teoria do fim da história teve a sua consagração ideológica. Com o domínio incontestado do Ocidente, seria imposto um sistema económico, social e político neoliberal universal e irreversível. Assim, a história chegaria ao seu termo final e cumpriria todos os seus objectivos.

O Ocidente não se identifica com a Europa, nem esta com a UE, mas com o primado mundial dos EUA. E esse Ocidente está hoje envolvido num processo de decadência progressiva, inevitável e irreversível. O Ocidente está, de facto, a ser corroído por factores de dissolução interna que decorrem precisamente da sua auto-referência, das suas próprias pretensões universalistas, do unilateralismo messiânico do expansionismo americano. O colapso da supremacia económica dos Estados Unidos resulta da instabilidade congénita de um sistema financeiro que se revelou irreformável. A sua subsistência artificial só é possível graças às incessantes emissões de liquidez e às taxas de juro zero. O fim da supremacia geopolítica e geoestratégica americana deve-se, pelo contrário, à incapacidade genética dos Estados Unidos de conceberem a existência de um "outro que não ele", isto é, de uma civilização fundada em valores éticos diferentes e dotada de um sistema político de orientação diferente.

O Ocidente está, pois, a dissolver-se porque é incapaz de enfrentar um mundo multilateral emergente, de se renovar e de se inserir nos processos de transformação em curso da geopolítica mundial. O paradigma fundamental da estratégia geopolítica do Ocidente é o que se baseia na lógica de blocos opostos herdada da Guerra Fria, adequada para legitimar o papel geopolítico da potência americana dominante no mundo em função do inimigo absoluto do momento. Esta lógica, no entanto, revela-se incompatível com a nova ordem mundial emergente, inspirada no multilateralismo. A contradição interna do unilateralismo americano é evidente. O estatuto de potência mundial deriva do reconhecimento de uma ordem internacional estabelecida no seio de um corpo de múltiplas outras potências. A ideia de uma única potência absoluta é, portanto, incompatível com a existência de qualquer ordem internacional.

O declínio do Ocidente (que envolve sobretudo a Europa), é a consequência lógica de uma némesis histórica desencadeada pela própria ideologia do fim da história. A Europa (e com ela todo o Ocidente), está numa crise irreversível porque se concebeu como uma entidade subordinada à geopolítica do poder global americano, colocando-se numa dimensão pós-histórica. Este afastamento da história resultou na perda da sua identidade cultural e da sua memória histórica. O seu destino será, portanto, a marginalização e o isolamento no contexto geopolítico global do futuro próximo.

Quem destruirá a "velha Europa"? Não a Rússia, não a China, mas a NATO

geopol.pt

ByLuigi Tedeschi

Chefe-editor da revista de política do Centro Cultural Italicum, com sede em Roma, desde 1985.

Leave a Reply

error: Content is protected !!

Discover more from geopol.pt

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading