Ricardo Nuno Costa

Editor-chefe GeoPol


A simbólica data de ontem podia bem ter lembrado àquelas mentes fantasiosas a inextricabilidade da Europa e da Rússia


Ontem, enquanto os russos celebravam de forma sempre solene o Dia da Vitória porque não brincam com coisas sérias, Ursula von der Leyen discursava em Estrasburgo na ironicamente chamada “Conferência para o Futuro da Europa”. A presidente da Comissão falou de uma miríade de vacuidades em tom poético, desde a importância da data, e de uma resistente berlinesa, que terá sido, segundo ela a ”arquitecta e construtora da actual Europa livre e unida”, que é “um sonho que nasceu de uma tragédia”, até à conclusão de que vivemos numa “vibrante e moderna democracia”!

Desta forma, deixou claro que “é preciso ir ainda mais longe”, e para tal, disse que pessoalmente sempre se bateu na UE “contra a votação por unanimidade em temas-chaves”, esse mecanismo “que não faz sentido se quisermos andar mais depressa”. Mas qual é a “pressa”? E desculpe, a senhora está dizendo agora que sempre foi contra o tratado fundacional da organização que preside, e que quer mudar as regras do jogo?

Então isto era uma armadilha?

Uma armadilha à qual agora querem juntar a armadilha da Ucrânia, já a contas com uma guerra por ter caído na armadilha de querer entrar na NATO e aceitar o papel de peão provocador contra um vizinho, que só por acaso é a maior potência nuclear do planeta, e que não brinca com coisas sérias. E terminou o seu discurso, tal como começou, falando de guerra e Europa, garantindo-nos que “o futuro da Europa é o futuro da Ucrânia”. Ou queria dizer o contrário?

Acto seguido, voou rumo a Budapeste, desesperada para tentar corromper o governo húngaro, na sua delirante cruzada contra a Rússia e, neste caso, da importação do seu petróleo. Os húngaros basicamente repetiram-lhe o já tinham feito saber; não vão deixar o seu país às escuras, nem fazer o seu povo pagar a factura de uma guerra que não é nem sua nem da UE.

Resta então aos tecnocratas o seu o recurso preferido, as sanções, agora também contra os húngaros e aqueles que se atrevam a antepor os seus interesses nacionais aos de Bruxelas.

O sexto pacote de sanções à Rússia abre um precedente, confrontando as sociedades europeias, as suas indústrias e sua estabilidade social ante a realidade de não poder prescindir da energia proveniente daquele país. A simbólica data de ontem podia bem ter lembrado àquelas mentes delirantes a inextricabilidade da Europa e da Rússia.

Imagem de capa por European Parliament sob licença CC BY 2.0

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ByRicardo Nuno Costa

Editor-chefe da GeoPol, é um jornalista português licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais, com estudos posteriores em Comunicação Política. Estagiou política internacional no DN, em Lisboa e trabalhou durante anos em meios digitais em Barcelona.

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