Ricardo Nuno Costa

Editor-chefe GeoPol


A União Europeia deu mais uma vez provas da sua imaturidade diplomática, ainda por cima deixando em evidência a sua condição de elo fraco, ao declarar três diplomatas russos personae non grata, ontem em uníssono.

Depois de uma desastrosa primeira viagem de Josep Borrell a Moscovo, onde demonstrou ser um diplomata vulgaríssimo diante o colossal Lavrov, a Alemanha, a Polónia e a Suécia decidiram alinhar numa vingançazinha de Kindergarten e retiraram as credenciais a três diplomatas russos dos seus territórios.

Sem invocar razão alguma de carácter jurídico para tais decisões, evidenciando que a sua diplomacia se pauta por instintos de humor e não por critérios racionais, ainda deixaram claro que a acção foi coordenada entre os três e obedecia ao princípio de reciprocidade em retaliação a "semelhante" decisão de Moscovo uns dias antes.

Ora Moscovo não retirou credenciais por nenhum arrebato emocional, mas sim porque ditos diplomatas europeus estavam envolvidos em actividades ilegais no seu território. Mas a EU, cada vez mais parecida aos EUA, não conhece o princípio da não-ingerência. Parte do princípio que pode actuar em território russo como jamais admitiria que actuassem no seu.

Pode alguém imaginar a reacção de Berlim se diplomatas russos andassem por aí em demonstrações de rua não autorizadas contra a senhora Merkel? Pois invertamos os acontecimentos, sejamos honestos e reparemos na tremenda hipocrisia desta novela, que tem como único motivo um cidadão russo condenado pela Justiça russa por fraude e corrupção em território russo.

O que encerra então todo esta escalada dos tecnocratas de Bruxelas e da imprensa ocidental nesta altura? Eu assumo que se trata de uma intensificação propositada de alguns sectores, e serve de aperitivo para o que vem com o Conselho Europeu em março, no qual os líderes da UE lançarão as bases da futura relação com a Rússia. Sabemos que a questão energética, a Ucrânia e a Bielorrússia são os pontos quentes e que há grandes interesses em boicotar um entendimento entre a Europa ocidental e o gigante euro-asiático.

Tendo em conta que do outro lado do Atlântico a nova Administração progressista já fez saber que "não hesitará em aumentar os custos para a Rússia", é de prever que a UE seja aliciada a virar-se para Joe Biden, onde não faltarão saudosos dos anos de Obama e do seu global-humanitarismo, tão bem exemplificado no golpe na Ucrânia e nos bombardeamentos do Afeganistão, Iraque, Iémen, Síria, Líbia, Somália e Paquistão e consequentes vagas de refugiados. É isto que querem para Europa no mundo?

Como portugueses, e com uma limitada influência, é desejável que deixemos claro que insistimos na via diplomática e que acreditamos na boa fé dos nossos colegas do extremo oposto do continente, até porque a Europa não só é uma realidade geográfica, mas sobretudo civilizacional e que o entendimento do leste com o oeste é uma questão de tempo.


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