Nos círculos académicos chineses e russos, os pontos de vista que defendem uma aliança deste tipo existem há muito tempo, mas não são generalizados. Os governos de ambos os países sempre aderiram à política de parceria estratégica em vez de aliança, e a questão da aliança não está na agenda do diálogo China-Rússia.
Contudo, na reunião plenária do Clube Valdai, que teve lugar em outubro de 2020, o presidente Putin disse que teoricamente não está excluída a possibilidade de uma aliança China-Rússia, embora seja desnecessária neste momento. Recebeu uma resposta positiva, embora implícita, do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, que foi intensificada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi, dizendo que não havia uma área restrita para a cooperação estratégica bilateral, em vez de repetir a retórica habitual de não-alinhamento. Esta é uma mudança delicada nas declarações oficiais dos dois países, o que tornou relevante a questão da aliança China-Rússia.
Na história, a China formou alianças com a Rússia mais do que com qualquer outro país. Os dois países formaram alianças três vezes, respectivamente, durante a Dinastia Qing, a República da China e a República Popular da China.
Uma aliança é uma opção possível, mas é o último recurso. A possível condição para a aliança sino-russa é que os Estados Unidos representem ao mesmo tempo uma séria ameaça directa à segurança da China e da Rússia, podendo ocorrer confrontos militares, fazendo da segurança a necessidade estratégica primordial tanto para a China como para a Rússia.
No contexto das actuais relações China-Rússia-EUA, uma vez alinhadas a China e a Rússia, isso significa que os Estados Unidos são um inimigo aberto. Embora a ameaça dos Estados Unidos possa ser aliviada através de uma aliança, o facto de uma grande potência se tornar ela própria um inimigo constitui uma enorme pressão estratégica. Isto é exactamente como o caso do triângulo China-EUA-URSS durante a Guerra Fria. O triângulo reduziu a ameaça de segurança da União Soviética à China. Mesmo assim, não resolveu os problemas de segurança da China, porque não eliminou a ameaça em si, mas apenas aumentou a sua capacidade de lidar com ela. Esta ameaça só foi efectivamente eliminada após o restabelecimento das relações normais entre a China e a União Soviética. O mesmo se passou com a União Soviética. O confronto estratégico entre a China e a União Soviética só terminou quando os dois países recuperaram a amizade.
Deste ponto de vista, para a China e para a Rússia, uma relação normal com os Estados Unidos é a melhor forma de eliminar a pressão estratégica e a ameaça. Sem dúvida, tanto a China como a Rússia desejam relações de cooperação com os Estados Unidos. É do seu interesse. Mas depende também das intenções dos Estados Unidos. Sem interacção positiva mútua, é impossível fomentar as relações de cooperação. Agora a bola está do lado dos EUA. Certamente os EUA pensam que é o contrário.
A conclusão é simples. A China e a Rússia devem manter uma parceria estratégica, aproveitar ao máximo as possibilidades que ela contém, e deixar a porta da aliança aberta. Os dois países não devem estabelecer limites às suas escolhas estratégicas. Sob a condição de a situação internacional continuar a deteriorar-se, as ameaças estratégicas e militares à segurança da China e da Rússia são susceptíveis de aumentar. Num certo ponto crítico, a aliança pode tornar-se uma necessidade prática para a China e a Rússia.

Gostou desta matéria? Ajude-nos a melhorar!
O nosso trabalho tem o preço que você achar justo. Qualquer contribuição é bem vinda.
1,00 €
As ideias expressas no presente artigo / comentário / entrevista refletem as visões do/s seu/s autor/es, não correspondem necessariamente à linha editorial da GeoPol
Para mais conteúdos, siga os nossos outros canais: Youtube, Twitter, Facebook, Instagram, Telegram e VK
Autor
- Conversa sobre a Ásia Central com Leonardo Russo - 19 de Março de 2023
- Porque o gasoduto tinha que ser sabotado - 18 de Março de 2023
- Entrevista ao Major-general Raul Cunha - 5 de Março de 2023