
Entrevista com Giorgio Vitangeli, autor do ensaio Presidenzialismo, sistema elettorale ed Europa dall’Atlantico al Pacifico, conduzida por Luigi Tedeschi
O modelo económico neoliberal nasceu nos EUA com a Reaganomics e na Grã-Bretanha com Thatcher, com o objectivo de pôr fim à erosão progressiva dos lucros devido às restrições impostas à concorrência, representada pelo aumento dos salários e dos custos do Estado-Providência. Mas não terá a concorrência excessiva o efeito de espremer a rentabilidade de empresas que então careceriam de recursos adequados ao investimento? No sistema neoliberal, de facto, o aumento dos lucros foi conseguido em virtude da concorrência desenfreada tornada possível pela desregulamentação económica, cortes na segurança social e compressão salarial. Não será que este sistema não corta à raiz o crescimento da economia real ao não prever mecanismos de redistribuição de rendimentos, uma vez que os ganhos de produtividade durante décadas não foram acompanhados por aumentos adequados dos rendimentos dos trabalhadores? Será que as ineficiências e contradições do sistema permanecem inalteradas desde os anos 80 e, portanto, não se torna claro que o capitalismo neoliberal é irrecuperável?
Thatcher tinha duas obsessões: o poder de negociação dos sindicatos, que na sua opinião impedia o crescimento dos rendimentos do capital, e assim impedia novos investimentos, e demasiados regulamentos, que na sua opinião, aproveitavam o mercado, impedindo-o de funcionar no seu melhor de acordo com o princípio da livre concorrência. E um outro travão foi a presença de indústrias públicas.
Daí os dois principais objectivos do ‘thatcherismo', ou seja, esmagar o poder dos sindicatos e a 'desregulamentação', ou seja, a abolição da maioria das regras, para dar espaço livre à concorrência, concebida quase como a única e fundamental regra de um mercado livre. Terceiro objectivo, a "privatização", ou seja, a abolição das empresas públicas e a sua total privatização.
O modelo de política económica de Thatcher foi logo imitado por Reagan, e tornou-se "reaganomics", aumentando grandemente o seu perigo. Porque Thatcher encontrou muito pouco seguidores na Europa na altura (o primeiro-ministro Craxi opôs-se abertamente, e frequentemente, seguido pelos outros líderes europeus, colocou Thatcher numa embaraçosa minoria total: ela sozinha de um lado, todos os outros líderes europeus do outro). Mas o presidente dos EUA teve a força, em vez disso, para impor essa política a todo o Ocidente. E assim foi. A Reaganomics tornou-se a substância do "pensamento único" que ainda hoje nos oprime. As multinacionais americanas, os grandes capitalistas, mas também os fundos de investimento que, reunindo o capital dos pequenos e grandes empresários, se tornaram os protagonistas deste novo capitalismo financeiro, viram a oportunidade que essas novas regras se ofereciam para fazer rusgas, a começar pelo assalto às indústrias públicas. E ao acrescentar às ideias de Thatcher o mito da "aldeia global", ou seja, a globalização da economia, chegamos ao liberalismo selvagem que está a levar o mundo à ruína hoje em dia.
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