O mega-porto chinês do Peru abala a geoeconomia da América do Sul!
O porto de Chancay, a 75 quilómetros de Lima (Peru), vai tornar-se o primeiro centro de logística marítima chinês no Pacífico da América Latina (AL). É detido maioritariamente pela companhia de navegação estatal Cosco e o seu investimento está estimado em 3 mil milhões de dólares.
A Cosco detém 60% das acções e partilha a sua parceria com a empresa mineira peruana Volcan, o que tem preocupado os anacrónicos detentores da Doutrina Monroe: desde o almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul em 2019, até à sua sucessora, a pugnaz general Laura Richardson, que quer aplicar o fantasioso excepcionalismo norte-americano através de lawfare, fraude eleitoral, golpes de Estado e até invasões militares.
O portal argentino Infobae, supostamente ligado ao Comando Sul, ficou exasperado com a chegada, a 7 de novembro, do primeiro navio chinês a Chancay, proveniente do porto de Taicang (China), com o primeiro equipamento para o seu funcionamento automatizado (bit.ly/3O4HwwM).
O Infobae, muito propenso à desinformação e aos ataques pessoais de espionagem vulgar, conjetura a entrada de militares chineses e cita convenientemente o investigador Robert Evan Ellis, do Instituto de Estudos Estratégicos do Exército dos EUA (ligado à amazona Richardson e autor de um recente artigo conspiratório para a China & Latin America Network, que analisa os riscos geopolíticos que o Peru enfrenta com a tomada de posse antecipada e adverte que
a crescente dependência do Peru de sectores estratégicos de origem chinesa – como os minerais, a eletricidade e as telecomunicações – pode restringir a sua capacidade de resistir a uma potencial influência chinesa.
Em contraponto, o editorial do Global Times, porta-voz oficioso do Partido Comunista Chinês (bit.ly/4etpgI4), exalta o grande projeto de Chancay a Xangai como um dos braços da Rota da Seda e uma revelação dos tempos que será inaugurada na próxima cimeira da APEC – na minha opinião, já muito anacrónica e inoperante face aos BRICS - em Lima, de 14 a 16 de novembro.
Chancay é um porto de águas profundas, foi apelidado de porto de Singapura da América Latina e deverá gerar 4,6 mil milhões de dólares de benefícios anuais para o Peru, o equivalente a 1,8% do seu PIB.
De acordo com o Global Times, o Peru lançou um plano de construção de uma rede ferroviária e rodoviária para conectar as principais cidades do país e outras redes regionais a Chancay, onde as exportações da Colômbia, da Bolívia e do Brasil, que não têm acesso ao mar, serão escoadas.
A inauguração do porto de Chancay criou uma enorme excitação na América do Sul e, em particular, na Bolívia - com as maiores reservas de lítio do mundo – onde foi apelidado de porto da América do Sul, em colisão com o exorcismo do Comando Sul e do Departamento de Estado, que apelidou Chancay de uma ameaça à segurança nacional dos EUA, para não mencionar a espetacular entrada da Bolívia nos BRICS na Cimeira de Kazan – o que pode explicar a grave intensificação da sua luta fratricida interna.
É muito provável que o presidente chinês Xi Jinping aproveite a sua presença na Cimeira da APEC para inaugurar o mega-porto de Chancay que transformará a geo-economia da América do Sul.
O jornal britânico Daily Telegraph (DT) ameaçou que o Peru será o alvo da “guerra global (sic) entre a China e os EUA (bit.ly/40EVSvp)”, para não falar do novo gabinete eminentemente sinófobo do segundo mandato de Trump, e ataca os controversos (sic) programas de infra-estruturas globais da China. O DT ameaça que a designação de Chancay como casus belli é apenas um começo, uma vez que centenas de projectos chineses ao longo da Rota da Seda irão em breve beneficiar dessa designação geolinguística.
Por enquanto, é provável que Biden participe na Cimeira da APEC e seja acompanhado por 600 soldados americanos.
Peça traduzida do espanhol para GeoPol desde a página de Alfredo Jalife-Rahme
As ideias expressas no presente artigo / comentário / entrevista refletem as visões do/s seu/s autor/es, não correspondem necessariamente à linha editorial da GeoPol
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