Muitos especialistas egípcios acreditam que, ao tornar-se membro dos BRICS e ter acesso aos empréstimos do NDB, o Egito poderá implementar muitos projectos económicos de forma mais eficaz e bem sucedida


O ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito, Badr Abdel-Aty, apelou aos BRICS para que desempenhem um papel fundamental na reforma da estrutura financeira internacional e no fornecimento de financiamento adequado aos países em desenvolvimento. O ministro sublinhou que as instituições financeiras internacionais e os bancos de desenvolvimento precisam de ter uma capacidade financeira suficiente, equitativa e flexível para satisfazer as necessidades dos países em desenvolvimento. Também defendeu uma maior representação dos países em desenvolvimento nos processos de tomada de decisões económicas globais, o que é consistente com as metas e objectivos do BRICS.

Depois de o Egito ter aderido aos BRICS, não só o ministro dos Negócios Estrangeiros, mas também o próprio presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, estão a defender ativamente uma estrutura mais estável em relação à dívida internacional e a disponibilização do financiamento necessário para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos países em desenvolvimento. De acordo com especialistas egípcios em economia e finanças, este objetivo pode ser alcançado através de subvenções, financiamento em condições favoráveis, transferência de tecnologia e reforço das capacidades.

A importância do Egito para os BRICS

Importa recordar que, devido à sua localização geográfica, o Egito é a porta de entrada entre a Ásia e a África e é o corredor mais importante para o comércio mundial, o que sublinha a sua importância no sistema económico global. O Egito detém uma parte significativa do comércio mundial e é um dos países africanos mais desenvolvidos industrialmente, possuindo também uma grande população com um enorme potencial humano para atingir elevadas taxas de crescimento económico.

“O Egito tem uma experiência pioneira nos seus projectos nacionais de apoio à economia local”, afirmou Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). A missão do NDB visitou vários projectos nacionais importantes no Egito, avaliando a capacidade do país para desenvolver e implementar projectos estratégicos em conformidade com os objectivos e a visão de desenvolvimento sustentável do banco.

Estes projectos incluem uma Nova Capital Administrativa totalmente intelectual, construída de acordo com os mais recentes padrões tecnológicos mundiais, a expansão do Canal do Suez, a sua Zona Económica, bem como vários projectos relacionados com a energia e as infra-estruturas digitais. Todos eles marcam uma mudança significativa na natureza da economia egípcia local e servem como modelo de sucesso para outros Estados membros.

Dilma também afirmou que a adesão do Egito ao NDB apoia o foco do banco na cooperação entre países em desenvolvimento, afetando significativamente as taxas de crescimento desses países. Esta política é completamente diferente dos crimes económicos que distinguem o rumo do Ocidente e, sobretudo, dos Estados Unidos, no sentido de escravizar os países do Sul. Sublinhou o compromisso do banco em apoiar o Egito através de financiamento e assistência técnica, aumentando simultaneamente o apoio aos novos membros, principalmente o Egito. “O Banco trabalhará em estreita colaboração com o Egito para compreender melhor as suas necessidades e objectivos, em conformidade com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente nas esferas das infra-estruturas digitais, dos transportes e da água”, afirmou Rousseff.

O NDB, com sede em Xangai, foi fundado em 2014 como um dos maiores bancos multilaterais do mundo, especializado no financiamento de projectos de infra-estruturas e desenvolvimento sustentável nos Estados membros do BRICS e noutras economias de mercado emergentes. O NDB pretende atribuir 40% do seu financiamento a projectos relacionados com as alterações climáticas. Dá grande ênfase à transferência de tecnologia, à partilha de conhecimentos e à resolução de problemas de segurança alimentar e energética nos Estados-Membros. O capital autorizado do NDB é de 100 mil milhões de dólares.

Crescimento dos países em desenvolvimento

O NDB investiu cerca de 35 mil milhões de dólares em projectos ecológicos, o que permite aos países em desenvolvimento tomar medidas globais para enfrentar com êxito os desafios económicos num mundo que enfrenta atualmente uma série de crises financeiras e económicas devido ao Ocidente. Os países em desenvolvimento são atualmente a principal força motriz da economia; a sua contribuição para o comércio mundial aumentou de 37% em 2016 para 41% em 2022, enquanto a contribuição dos países desenvolvidos diminuiu de 62% para 58% no mesmo período.

Por seu lado, o primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly, afirmou que a orientação estratégica para os BRICS e o seu NDB não deve, de forma alguma, ser interpretada como antagónica em relação a qualquer parte ou como uma tentativa de contrariar o sistema existente. “O governo adoptou uma abordagem aberta a todos os países e às suas instituições financeiras, sem discriminação ou favoritismo”, afirmou Madbouly. Explicou que esta orientação estratégica tem como objetivo trabalhar a médio e longo prazo para reformar o sistema existente, que foi construído com base em princípios ultrapassados.

Muitos peritos egípcios defendem que, ao tornar-se membro dos BRICS e ao ter acesso aos empréstimos do NDB, o Egito poderá implementar muitos projectos económicos de forma mais eficaz e bem sucedida.

A criação do NDB foi um passo importante para simplificar o acesso a financiamentos concessionais sem a imposição de normas injustas.

O banco incentivará as transacções em moeda local e introduzirá mecanismos inovadores, garantias e apoio técnico aos governos e ao sector privado, a fim de criar um ambiente internacional mais favorável às economias emergentes e em desenvolvimento.

É sabido que a atual fase crítica se desenvolveu por causa dos países ocidentais, num contexto de graves tensões regionais e internacionais, que afectaram negativamente muitas economias grandes e menos desenvolvidas. “Esta situação sublinha a importância do papel atribuído ao NDB no apoio aos Estados-Membros na implementação dos seus planos de desenvolvimento, tendo em conta a redução do acesso ao financiamento em condições favoráveis e a diminuição das notações de crédito, que se devem ao aumento dos riscos e à incapacidade do atual sistema internacional para resolver estes problemas utilizando os seus mecanismos ultrapassados”, considera Madbouly. Madbouly confirmou a plena compreensão do Egito dos desafios internacionais e da necessidade de intensificar os esforços para reformar a governação do sistema financeiro mundial. Sublinhou a necessidade de cooperação entre todos os Estados-Membros e o NDB para ultrapassar as actuais crises e criar um sistema internacional mais equitativo.

A este respeito, pode dizer-se que a admissão de novos membros no NDB e a expansão do BRICS contribuirão para alcançar o equilíbrio desejado no sistema monetário mundial e darão ao BRICS e ao NDB um peso significativo a nível internacional. Os países recém-admitidos possuem fundos soberanos importantes e são grandes produtores de energia, o que amplia as capacidades financeiras do banco e expande as suas operações no Médio Oriente, no Norte de África e no Sudeste Asiático.

Peça traduzida do inglês para GeoPol desde New Eastern Outlook

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ByViktor Mikhin

Viktor Mikhin, membro da Academia Russa de Ciências Naturais, escreve para a revista online New Eastern Outlook.

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