Biden mostrou de forma sumamente desleal qual era o propósito maior da sua ruinosa presidência: a guerra


O anúncio de novas armas por Putin é basicamente a machadada final em qualquer veleidade ocidental de querer ganhar uma guerra contra a Rússia. Se Moscovo revela agora os mísseis Oreshnik, é porque conta com uns quantos trunfos mais na manga.

Este movimento de Moscovo, em simultâneo com a actualização da doutrina nuclear, dá-se após a irresponsável e traiçoeira autorização de Biden do uso de armas de longo alcance norte-americanas sobre território russo e o pronto uso da mesma por Zelensky. Uma vingança pessoal do presidente cessante e um embaraçoso testemunho que passa ao seu sucessor, que se verá diante um cenário muito mais complexo de resolver sobre a sua relação com a Rússia e a Europa.

A rasteira de Biden a Trump corrobora aquilo que aqui vínhamos dizendo desde de que tomou posse em 2021. A guerra da Ucrânia era um projecto basicamente seu, desenhado com Obama, Nuland, os britânicos e os grupos de reflexão neocons e posto em marcha em 2013. Plano que Trump manteve em segundo plano, fazendo-se valer do realismo geopolítico e racionalidade de compreensivelmente não querer uma guerra com a Rússia.

Para além do objectivo de separar a Alemanha da Rússia (conseguido a expensas da primeira), o objectivo final de Biden era o velho sonho anglo-saxónico de inflingir uma derrota estratégica à Rússia e apossar-se do ‘coração do mundo‘, conceptualizado na doutrina do “Heartland” de Halford Makinder há mais de um século e que tem feito escola nas hostes neocons desde então, em especial adstritas aos democratas norte-americanos, nomeadamente por Zbigniew Brzeziński.

Biden não contou com uma Rússia, que para além de ser a maior potência nuclear, tem uma vantagem de uma ou duas gerações neste rubro, um complexo industrial-militar afinado e uma determinação total nos seus objectivos finais, que de resto foram publicamente expostos à NATO em dezembro de 2021 e olimpicamente ignorados por esta.

Hoje, o primeiro-ministro polaco, que nos últimos dois anos ainda na oposição se posicionou favoravelmente a todas as escaladas ocidentais de “ganhar o Putin”, veio falar da grande probabilidade de uma “guerra global”, ao mesmo tempo que várias autoridades militares inglesas afirmam que estão dispostos a ir para o leste da Europa lutar contra a Rússia.

Após mais de 10 anos de conflito efectivo (de baixa intensidade até 2022), e de quase três de uma guerra que não declarada, cabe perguntar porque se envolveram os europeus naquela contenda ‘entre russos‘? Quem me explica agora a teoria de que não era a NATO e a UE que estavam por detrás do golpe de 2014 e da agitação da fronteira ocidental russa, vulgo ‘Ukraina‘?

É claro que Putin quer restaurar o seu espaço natural de influência, que só por acaso é o mais vasto do mundo. A reorganização da arquitectura global de segurança é portanto, fulcral e indispensável para todos. Se com os asiáticos, Moscovo logra falar e cooperar, já no seu flanco ocidental, a intromissão constante dos EUA tem inviabilizado qualquer entendimento entre a Europa e a Rússia (entre a Europa e o maior país da Europa!). Esta intransigência resultará na imposição de condições por parte de Moscovo cada vez mais adversas para os interesses dos primeiros.

Quando já tudo se preparava para a tomada de uma nova administração nos EUA, que pelo menos se mostrava decidida a dialogar e a “acabar com o conflito com um telefonema”, e a esperança de que pela primeira vez em três anos algum estadista relevante a Ocidente pronunciasse a palavra “paz”, Biden mostrou de forma sumamente desleal qual era o propósito maior da sua ruinosa presidência: a guerra. 


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ByRicardo Nuno Costa

Editor-chefe da GeoPol, é licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais, com estudos posteriores em Comunicação Política. Estagiou política internacional no DN, em Lisboa.

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