Alfredo Jalife-Rahme
Analista geopolítico, autor e docente
Guerra geoestratégica para definir uma Nova Ordem Mundial
Na Ucrânia, várias guerras estão a ser travadas numa só: dedes a militar, passando pela biológica, a geoestratégica para definir a Nova Ordem Mundial (NOM) – na qual o ministro russo dos Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov e Joe Biden concordam, com diferentes cosmogonias, perante a seita globalista da Business Roundtable, que condenou os Estados Unidos a liderar uma NWO de países livres (sic).
Mais abertamente, Lavrov declarou numa entrevista à Rossia 24 que a “operação militar especial” visa “pôr fim (sic) à expansão irresponsável e ao curso imprudente do domínio total dos EUA e, sob ele, do resto dos países ocidentais na arena internacional”.
Lavrov criticou que o “domínio” americano “se constrói em flagrante violação do direito internacional” e repreendeu severamente o representante da diplomacia da União Europeia (UE), o espanhol/catalão Josep Borrell, que afirmou, após ter visitado o presidente cázaro/ucraniano Volodymir Zelensky em Kiev, que a solução seria encontrada no “campo de batalha”. Na opinião de Lavrov, “isto ou é uma reacção pessoal acumulada ou um deslize da língua ou tornou público algo que ninguém lhe pediu para revelar, mas é uma declaração sem precedentes”.
Lavrov criticou a afirmação militarista de Borrell, pois “altera substancialmente as regras do jogo”, quando até agora a UE “nunca agiu como uma organização militar”.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, censurou severamente a UE por se ter tornado “no departamento de relações económicas da NATO”, em referência às declarações belicosas de Borrell. Para a Zakharova, a UE deixou de ser uma “organização económica”.
Segundo Lavrov, na Ucrânia “começaram a fazer uma base para finalmente esmagar a Rússia – fazendo alusão ao apoio dos EUA/NATO/UE – e assim “subordiná-la ao sistema global que o Ocidente está a construir”.
Lavrov elaborou que a “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia “significa pôr fim à expansão desavergonhada da NATO e ao impulso desavergonhada para o pleno domínio dos EUA e dos seus súbditos ocidentais na cena mundial”, acrescentando que a Rússia está entre os países que não se submeterão ao domínio de Washington.
Não passou despercebido que no dia em que o presidente Vladimir Putin assistiu ao funeral do deputado ultra-nacionalista Vladimir Zhirinovsky, um assistente estava atrás dele carregando a pasta contendo o código para o botão nuclear.
Embora a Rússia tenha colocado o seu arsenal nuclear em alerta e interrompido as comunicações directas com os militares americanos, a singularidade específica da Ucrânia, na opinião do editorial da Strategic Culture Foundation (SCF), constitui o “sinal externo de maior confrontação entre, por um lado, a ordem ocidental liderada pelos EUA e, por outro, países como a Rússia, a China e outros que se recusam a aceitar um papel subalterno”.
Tanto Scott Ritter, um antigo oficial de espionagem dos fuzileiros navais e inspector da ONU na guerra do Iraque, como o cineasta norte-americano Bruce Gagnon concordam que o que a administração Biden procura é uma “mudança de regime” no Kremlin.
O editorial da SCF comenta que a “hostilidade” do Ocidente “não é apenas dirigida à Rússia”. O seu objectivo é enfrentar a emergência de uma ordem mundial multipolar que está para além do controlo do domínio dos EUA. Tal domínio ou hegemonia baseia-se no controlo americano do sistema financeiro global, bem como no poder militar bruto dos EUA, assistido pelos seus adjuntos da NATO”.
A propósito, o editorial cita o notável analista russo Fyodor Lukyanov, que afirma que a Rússia “já não está interessada em integrar-se na ordem global centrada no Ocidente” e escolheu agora “outro caminho”.
Fonte: LaJornada